5 de março de 2017

Reencontro

Lá estava eu, atrasado, seguindo pela Santos Dumont em direção à terapia. Aquela rodovia é um inferno às sete da manhã! Bem ou mal, as intermináveis filas de carros completamente paradas me deram tempo para refletir, enquanto tentava vencer o desafio de não me atrasar muito.

Afinal, dois anos tinham se passado desde a última vez em que havia visto minha psicóloga. Dois anos... Tanta coisa acontece neste tempo. O que, de fato, deveria ser comentado? A mudança de casa, os relacionamentos criados, as relações perdidas, os sonhos realizados e os novos que se faziam... Menos quinze minutos para se chegar ao destino, fico ainda mais colérico com a situação daquela rodovia.

Talvez, eu devesse falar dos planos para o ano que se iniciará. Ou, quem sabe, comentar aquela difícil situação vivida. Ah, mas tem outro fato importante a ser destacado de um ano e meio atrás... E mais vinte minutos se vão até que eu, finalmente, consigo chegar àquela sessão e reencontrar minha terapeuta, que eu não via há exatos dois anos.

"Você está igualzinho, não mudou nada". De certo modo, fiquei contente com o comentário. Pois, se começamos a envelhecer, de verdade, depois dos 25 anos, devo estar caminhando amigavelmente com a minha idade. Ao contrário da minha relação com os meus atrasos, que me dera, nesta situação, apenas 40 minutos de sessão. Seria possível, em 40 minutos, contar o ocorrido em dois anos? 

Não sei. Mas, naquele momento era como se, à minha frente, não estivesse mais minha psicóloga; era como se eu estivesse olhando para os dois últimos intensos anos vividos e precisasse reencontrá-los, ali, para um bate-papo de quarenta minutos. Foi, então, que a preocupação com o que contar foi embora, e tudo que senti neste encontro foi vontade. 

Vontade de rever esses dois queridos. Da mesma forma como quando revejo amigos, após um bom tempo sem nos encontrarmos, estava ali diante de dois anos vividos, feliz por vê-los novamente. É ali que aconteceu o mesmo processo de se matar as saudades com os amigos.

Olha só, como você mudou, está mais bonito. Veja, está mais forte também. Não me diga que você fez isso? Que máximo! Pois é, que coisa boa. Hum, esta decisão foi importante, hein? Que ótima esta novidade! Conte-me mais sobre ela... Ah, que saudades eu estava de vocês!

Assim, foi um encontro saudoso. Não precisei de mais do que quarenta minutos para olhar para esses dois velhos conhecidos e ver como eles foram bons! Se houve momentos ruins? Claro que sim, alguns bem sérios, inclusive. Porém, assim como perdoamos e nos esquecemos das ranhuras de uma boa amizade, deixei de lado as situações ruins e só fui capaz de me lembrar de coisas boas.

Afinal, estava ali olhando para dois queridos tão importantes. Como poderia me prender aos fatos pesados, se as lembranças boas eram tão vívidas? Que bom que eu os reencontrei! Que bom que enfrentei a correria crônica do cotidiano, escancarada na Santos Dumont, para abrir uma brecha na agenda a este reencontro. Que bom que eu parei e olhei para vocês.

Logo, os quarenta minutos se foram. Rápidos, bons e suficientes. Como tinham de ser. E minha psicóloga, que ali me observava revendo estes entes queridos, então fechou aquela sessão quase como a iniciou: "você está diferente, sabe?". 

Sim, eu estou (cada vez mais) diferente.