27 de fevereiro de 2011

FuturoRP Interview - Claudia Maria de Cillo Carvalho

Eu, como um jovem profissional e futuro relações-públicas (com muito orgulho), sempre busco identificar boas oportunidades para fazer coisas grandiosas. E essa semana me surgiu uma oportunidade muito interessante: a de entrevistar um profissional de RP para um trabalho da faculdade.
     Pensei nos contatos que possuo com RPs já formados e atuantes no mercado, mas me surgiu uma vontade de conhecer alguém novo. E ninguém melhor do que uma grande RP que possui um brilho nos olhos que poucas vezes vi em qualquer outro profissional: Claudia Maria de Cillo Carvalho.
     Os RPs devem saber de quem estou falando, mas para quem não conhece estou falando de uma profissional que dedicou uma vida às Relações Públicas, que defende a profissão como todos nós deveríamos defender, e que inspira alunos há muitos anos. Claudia é diretora da Faculdade de Relações Públicas da PUC Campinas, faculdade na qual leciona desde 1983, e também Delegada do CONRERP na região de Campinas. E, mesmo sendo uma profissional tão importante, aceitou ser entrevistada por um estudante, isso logo no dia seguinte ao meu pedido.
     Claudia foi muito simpática e solícita, me surpreendi com sua atenção e carinho. Ela tem a grandeza de uma profissional experiente e cheia de bagagem para compartilhar, mas não possui a pompa que deixam muitos profissionais egocêntricos. Estar com ela é agradavelmente simples! Ela me recebeu na PUC logo de manhã na quinta-feira do dia 17 de Fevereiro, encontrei-a na sala dos professores e depois fomos para a Consultoria de Relações Públicas, onde sentamos e trocamos ideias. Nem me atrevi a segurar o gravador, como comumente faço em outras entrevistas, simplesmente o coloquei em cima da mesa e me preparei para aprender, afinal, já me esquecia do trabalho que tinha para fazer, eu queria mesmo era absorver tudo que podia. Despi-me de toda e qualquer técnica de entrevista que aprendi no curso de Jornalismo, afinal, queria, de fato, conversar com aquela profissional grandiosa.
     Claudia falava de Relações Públicas com orgulho, o tempo todo fazia alusão ao tempo que passou e como é hoje, antecipava-se às minhas perguntas e parecia adivinhar o que eu ia falar, mostrando o que é SER relações-públicas, e não ESTAR relações-públicas.
     Agradeço aqui pela fantástica oportunidade que ela me proporcionou. E só digo uma coisa: a Claudia É O MÁXIMO! Vamos à entrevista!




Claudia Cillo, a entrevistada.



RELAÇÕES PÚBLICAS É OUSADIA!

A frase acima é da relações-públicas Claudia Maria de Cillo Carvalho, e expressa em poucas palavras o brilho nos olhos que essa profissional possui. RP há mais de 30 anos, Claudia está na direção da faculdade de Relações Públicas da PUC Campinas, leciona nessa mesma universidade, e é também Delegada pelo CONRERP na região de Campinas. Profissional renomada e que defende a área de RP como ninguém, ela conta como foi dedicar uma vida a essa área, e fala sobre as perspectivas presentes e futuras para os profissionais que ainda estão para se formar.

Por Wagner Oliveira, o FuturoRP.


FuturoRPClaudia, sei que você é diretora da faculdade de Relações Públicas aqui da PUC, onde também leciona, e que foi recentemente nomeada Delegada do CONRERP da região de Campinas. Gostaria de ouvir de você quais são suas atuações como RP.

Claudia Cillo – Para falar o que eu faço atualmente, tenho que fazer uma retrospectiva daquilo que já fiz em termos de vida. Eu me formei no início da década de 80 aqui na PUC de Campinas, e desde que me formei sempre mantive vínculo com a universidade. Apesar de já ter trabalhado em empresas, algumas oportunidades surgiram para assumir cargos administrativos na universidade enquanto trabalhava nessas empresas, e foi difícil conciliar as duas coisas, pois o mercado exige muito do profissional e a universidade também. Então, tive que fazer uma opção de vida e ficar somente na vida acadêmica, e hoje estou na direção pela segunda gestão. Também há minha atuação com aquilo que eu mais amo fazer, que é ministrar aulas; sou professora há muito tempo, desde 1983. Além disso, no ano passado tive o privilégio de ser nomeada Delegada do CONRERP aqui da região de Campinas, que engloba 21 municípios da região metropolitana, mais Jundiaí e Piracicaba. E não me restringi apenas à PUC em Campinas, pois também implantei o curso de RP na faculdade de Americana, a FAM.
E também sou avaliadora do MEC, viajando o Brasil inteiro para fazer visitas de avaliações pelo INEP para reconhecimento, autorizações, credenciamento, e recredenciamento, de instituições com cursos de comunicação, mais especificamente do curso de RP.


FuturoRP – E como se dá seu trabalho como RP nessas atuações? Quais são os seus públicos de interesse e como é o relacionamento com eles?

Claudia Cillo – Hoje, todas as minhas ações são em torno das técnicas de relacionamentos que uso aqui na universidade com os nossos públicos, que é a essência do trabalho do RP. As ações que desenvolvemos aqui são de relacionamentos (como aproximar o aluno, como aproximar o funcionário, realizar treinamentos, relacionar-se com os professores, fazer pesquisas...), todas aquelas ações que aprendemos ser imprescindíveis para o RP também se aplicam à universidade.
     Existem alguns públicos que são tidos como prioritários em termos de instituição, como, por exemplo, os egressos, que é um dos públicos estratégicos, que são alunos que se formaram e hoje ocupam posições de destaque lá fora. Então, trazemos esses bons alunos para fazer palestras. Como públicos, também temos: professores, funcionários, alunos, pais dos alunos, egressos, a comunidade, e o próprio mercado de trabalho. Esses são os stakeholders com os quais nos relacionamos.
     Na Delegacia, o que tenho feito é como todo trabalho de RP - partir do início. Estou fazendo todo trabalho de levantamento dos profissionais dessa região afiliados ao Conselho e de todas as assessorias de comunicação existentes, para tentar fazer com que se cumpra a Legislação da profissão, ou seja, que somente os profissionais formados a exerçam.
     É dessa forma que venho exercendo o trabalho de relações-públicas, multiplicando informações, na verdade.


FuturoRPComo funciona o trabalho de RP na PUC e no CONRERP? Como é trabalhar nessas frentes?

Claudia Cillo – A PUC possui um departamento de comunicação com profissionais formados em jornalismo, publicidade e propaganda, e relações públicas, que cuida da comunicação da universidade. E tem o gestor e diretor de faculdade que é responsável pelo seu curso, que faz a proposta de relacionamento.
     Nessa semana, por exemplo, estamos em um período de acolhimento, e estamos fazendo várias atividades com os ingressantes. Fazemos também reunião com os pais desses alunos para apresentar a área de RP, e eles se surpreendem. Nós tínhamos um problema sério com os pais incentivando os filhos a largarem o curso, por desconhecimento da área, e foi muito legal ver os pais surpresos com o universo que o filho dele pode trabalhar.
     Além disso, no trabalho final de curso, os alunos têm um cliente real do mercado, e antigamente o contato com essas organizações só era feito por telefone, para saber como estava indo o trabalho. Mas percebemos que isso era muito pouco em termos de relacionamento, pois somente o aluno se relacionava com o cliente. Então, desde 2006, estamos fazendo um encontro com os clientes do projeto experimental, fazendo a interface da faculdade com essas organizações, trazendo o mercado para dentro da universidade.
     Já na Delegacia é um trabalho que não aparece, de bastidores, que não é capa de revista. Mas, a maior vantagem dele é a valorização e qualificação da área para a região, o que também beneficia o mercado de trabalho. Eu e o professor Eliasar de Oliveira Almeida fizemos um plano de trabalho e estamos executando dentro das possibilidades, ajudando o Conselho nessa missão de divulgação e fiscalização da área.


FuturoRPLevando em conta esse trabalho na universidade, você acha que existe uma realidade muito distante da faculdade para o mercado?

Claudia Cillo – Não, muito pelo contrário. Eu acredito que academia e mercado trabalham juntos. Não faz sentido para uma instituição não manter esse contato direto de diálogo com o mercado, afinal de contas somos responsáveis por preparar pessoas que vão assumir o mercado de trabalho. Por isso, a universidade não pode se limitar apenas à teoria sem a prática, mas também não pode focar só na prática sem a teoria. Pois, tudo que existe de prático precisa se fundamentar numa teoria. Então, eu não vejo essa separação, e sim uma aproximação e um diálogo constante. Só assim faz sentido.


FuturoRPAtualmente temos uma situação um tanto complexa para o profissional de RP, pois muitos desconhecem sua atuação, e, ainda por cima, fazem inferências erradas a respeito dela. O que você acha disso e como isso influencia o seu trabalho como educadora?

Claudia Cillo – Nós estamos na linha de frente! Somos espelhos, recebemos as pedras, porque o aluno está na instituição e não gosta de ver certas coisas acontecerem. Mas isso sempre aconteceu, quando comecei a ministrar aulas essa situação de desconhecimento era pior. É que hoje as coisas ficam mais evidentes, porque com a tecnologia e as redes sociais num piscar de olhos a informação está aí. Cabe ao professor orientar o aluno da melhor forma possível, porque ele ainda é inseguro e está aqui para adquirir confiança na profissão.
    Temos o bom e o mal em qualquer área, e será bom aquele que tiver competência, pois a seletividade não está na universidade no momento do vestibular, mas na saída do aluno para o mercado de trabalho. É o mercado quem faz a seletividade.
     Assim, nosso papel enquanto educador é duro, pois precisamos mostrar essa realidade para os alunos e incentivá-los a se posicionar. Mas isso também é algo antagônico, pois se de um lado temos reclamações de que ninguém conhece RP e que nossa profissão é desvalorizada, do outro temos organizações que nunca tiveram tanta necessidade de se relacionar com seus públicos, e isso é o âmago de nossa profissão. Veja como as organizações estão contratando profissionais de comunicação, porque elas entraram num patamar onde qualidade qualquer um consegue, ao preço qualquer um pode se adequar, então terá mais destaque aquela que melhor souber se comunicar com seus públicos. Aí vem a essência dessa necessidade do trabalho de Relações Públicas.
     Então, o educador não é só reprodutor de informação, trabalhamos com a vida e passamos conhecimento, esse é o diferencial do profissional professor.


FuturoRPOlhando essa situação frente ao fato de relações-públicas ser uma profissão regulamentada, você defende essa regulamentação?

Claudia Cillo – Relações Públicas é a única área da comunicação que é regulamentada! Somos o único curso da comunicação que, para exercer a profissão, é preciso o diploma do curso superior e do registro no Ministério do Trabalho. Analisando a história, podemos questionar se foi certo ou não regulamentar ou se foi precoce, mas precisamos entender o contexto em que essa regulamentação ocorreu, que foi por força de um governo militar. Mas, já que foi regulamentada, vamos trabalhar com isso! Eu sou defensora da Legislação, concordo que ela precisa ser revisada porque as organizações estão diferentes da década de 60, o mundo mudou muito, então isso precisa ser revisado. Mas desregulamentar nunca! Conseguimos? Então vamos continuar com ela.


FuturoRPSobre o ensino de Relações Públicas, o que você acha da formação dos profissionais atualmente e da escolha dos alunos pela área?

Claudia Cillo – Analisando o número de alunos participantes no ENADE de todas as instituições do Brasil, é perceptível que muitas têm tido seu número reduzido. Sabemos que no final da década de 90, início dos anos 2000, houve uma proliferação dos cursos de RP no Brasil, mas que hoje já estão fechando, porque não foi feito um estudo de mercado para ver se a região comporta o curso. Então, percebemos uma diminuição dos alunos nos cursos de RP. Por isso, acho que temos que diminuir a oferta de vagas nas universidades para formar profissionais mais qualificados, porque o mercado não vai absorver tudo isso. No Brasil, se formam praticamente 3000 alunos em RP por ano... Onde vamos pôr esses 3000 profissionais? Então, eu sou a favor mesmo de uma redução, para uma melhora na qualidade desses cursos. Eu, como avaliadora do MEC, percebo que muitos dos cursos nem deveriam existir, pela falta de aderência à área.       
     E acho que o jovem é muito imaturo para escolher a profissão com 17 anos, além de ser bombardeado pelos veículos de comunicação com as profissões da moda. A cada dia, as instituições de ensino superior criam cursos com nomes que nunca ouvimos falar. Assim, o coitado do estudante para escolher uma profissão fica perdido, e acaba colocando na balança o ideal e o rentável, como se isso pudesse se medir dessa forma. Porque só será rentável se for competente, e o aluno acaba deixando de lado aquilo que tem prontidão e habilidade para ser, escolhendo aquilo que o mercado diz ser bem remunerado, assim teremos muito mais profissionais frustrados e menos competentes. Eu acho isso muito triste.
     Mas hoje temos recebido muito mais ingressantes que sabem aquilo que querem. Acho que o acesso à informação tem contribuído muito, e apesar de existir aquela máscara de que ninguém sabe o que faz um RP, percebemos que tem um pessoal que está falando direito o que o RP faz, e que não escolhem o curso por ter um nome bonito.


FuturoRPO que você acha da confusão que o mercado faz acerca do trabalho de Relações Públicas? Hoje temos outros profissionais exercendo as nossas funções...

Claudia Cillo – Quem sempre falou em comunicação organizacional? Quem sempre defendeu a comunicação nas empresas? O RP! Hoje vemos jornalistas e publicitários trabalhando comunicação organizacional, mas o papel deles não é esse. Quem sempre falou em comunicação organizacional fomos nós! Quem tem toda essa visão estratégica das organizações somos nós! O profissional que está mais preparado para trabalhar com esse composto é o RP. Mas, também defendo a comunicação integrada, trabalhando cada um para fazer a sua parte nesse processo todo, pois o RP não é um super-homem que vai fazer todo o trabalho, ele necessita do trabalho do publicitário e do jornalista. Mas, infelizmente, algumas áreas acham que podem fazer tudo sem o profissional de RP.


FuturoRP Para terminar, gostaria de ouvir o que é ser relações-públicas para você e saber qual mensagem você deixa aos futuros relações-públicas, depois de tanto tempo formando profissionais.   

Claudia Cillo – Eu não sei o que faria se eu não fosse RP. Se eu tivesse que voltar atrás eu escolheria RP de novo, até mesmo porque hoje as tendências são melhores do que na época em que prestei.
     Posso dizer que Relações Públicas é ousadia! Aquele que não for ousado não fará nada! No trabalho de RP tem que ser muito ético e transparente, só se concebe um profissional de RP trabalhando com a verdade. Eu já passei por momentos em minha vida em que tive que escolher entre a verdade e a hipocrisia, e eu optei pela verdade. E deposito muita confiança nesses que, como você, estão se formando, porque vocês é que estarão em nossos lugares. Nossa missão é ceder lugares para os mais novos.
     Fico feliz por perceber bons frutos depois de ter dedicado uma vida às Relações Públicas. Acho isso muito enriquecedor! Posso dizer aos alunos que vão se formar para ter um ideal pela frente e jamais deixar de sonhar, porque nenhum sonho é impossível. Se você persistir, vai conseguir!
     A Vera Giangrande, que foi uma grande profissional de RP, falava que tínhamos que levar a profissão muito pelo lado “quixotesco”, de Dom Quixote, porque ele seguia sempre à procura de um sonho impossível. E acho que é isso mesmo, temos que ser um verdadeiro Dom Quixote da vida e buscar o melhor, o ideal!
     Desejo sorte a todos os futuros profissionais de RP e muita dedicação, porque vale a pena!         

6 de fevereiro de 2011

Renovando...

Quando é hora de mudar algo? Quando sabemos que está na hora de tornar algo diferente daquilo que é? Acredito que cada um tenha a sua própria resposta. Eu, particularmente, sou fascinado por inovação! Adoro olhar para algo, pensar em como fazer diferente, e perguntar "por que não?".
Mudamos várias coisas: a arrumação dos móveis de casa, a roupa para uma ocasião especial, e até nosso emprego. A necessidade de mudar surge quando sentimos que a renovação trará vida àquilo que fazemos, dando um up e gerando motivação para continuar.
E o Blog do FuturoRP também mudou! Se você já leu, ao menos uma vez, algum texto que escrevi, reconhecerá a imagem desse post. Esse era o plano de fundo do Blog, que hoje passou por um reposicionamento (mais sobre posicionamento? Clique aqui). Quando reposicionamos algo ou alguém mudamos seus objetivos e sua estratégia de colocação perante seus públicos de interesse, e, muitas vezes, juntamente vem uma mudança na identidade visual (mais sobre Id.Visual? Clique aqui).
É isso que aconteceu com o Blog do FuturoRP, que está de Identidade Visual nova! Essa identidade nova acompanha o novo posicionamento do Blog: um canal que busca tornar as Relações Públicas mais familiar, aproximando-as do cotidiano das pessoas, agora com textos mais leves, e também com um toque pessoal. O objetivo é que o Blog chegue mais perto dos leitores, usando pouco de textos técnicos e teóricos.
Confesso que lamentei abrir mão do antigo design, afinal, ele era o máximo! Essa imagem foi produzida pela minha amiga Paula Fernandes (@bypaula), futura e promissora designer, muito talentosa. Fico grato a ela!

Vem muita novidade por aí, pois tenho muito o que compartilhar com vocês! E vocês, o que têm para compartilhar comigo? Uma coisa não mudou: o FuturoRP continua adorando feedback!

Viva e comunique-se! Até a próxima interação!