4 de junho de 2014

Uma sociedade de seres limitados


Recentemente fiquei sabendo da demissão de um colega profissional, por quem eu nutria certa admiração pela postura e modo de pensar. Ao perguntar o que tinha acontecido, ele atribuiu sua demissão ao fato de ter dado uma sugestão numa reunião de equipe, que incomodou seriamente seus líderes. A colocação, feita perante todos os presentes, gerou uma "conversa" com o gerente, culminando no desligamento.

Claro que a demissão não aconteceu apenas pela sugestão mal ou bem colocada. Pelo que acompanhei de longe, isto foi apenas o estopim de um histórico ruim, causado, acredito eu, pela alocação de um bom profissional numa vaga com perfil errado. Mesmo assim, o acontecido me fez refletir sobre como, geralmente, as sugestões de mudanças são recebidas.

Lembro-me como se fosse hoje quando, numa reunião de um trabalho voluntário que eu realizava, fui sugerir que a votação pelo novo líder da diretoria desse atenção a um novo nome, competente, que significaria a renovação de um cargo que era ocupado pela mesma pessoa há quase uma década. Fui apoiado por poucos, fuzilado por muitos, especialmente os mais idosos.

Isso não significa que as sugestões e novas ideias devam sempre estar com a razão e serem aceitas e acolhidas, pois até mesmo uma inovação tem seu momento certo de acontecer. Contudo, o que me chama atenção é como as pessoas lidam com isso. Normalmente, ao sugerir que algo seja feito de modo diferente, o primeiro ímpeto é apresentar objeções para que tudo continue como está. Afinal, "sempre fizemos assim", "é assim que tem de ser".

Soa como medo da mudança. Óbvio, mudar causa incômodo, fazer algo diferente não é simples. Em uma organização, exige realinhamento de processos, realocação de recursos e até mudança de cultura organizacional. É um processo doloroso. Portanto, deve ser analisado com cuidado. Mas, deve ser analisado. E é aí que está o ponto.

Quantos talentos não saem das universidades cheios de ideias e gás para fazer diferente e propor mudanças? Após passarem por um estágio de aprendizado no lugar onde estão, querem fazer suas colocações, dar opinião, apontar melhorias. É um incômodo característico da geração Y, e acredito que será ainda mais latente quando a geração Z chegar ao mercado de trabalho. Entretanto, ao fazê-lo, a primeira coisa que recebem logo de cara é pouca abertura a serem ouvidos.

Tal falta de receptividade sequer para ouvir um talento dentro da organização pode acontecer por uma série de motivos. O mais curioso de todos é pelo medo do superior de que seu subordinado se apresente melhor do que ele, por isso sempre o barrará. Como assim? Por que contratar alguém pior do que você? Para continuar no posto de soberano absoluto? Ora, seja parceiro desse talento e use suas habilidades para crescerem juntos e, com isso, alavancar a organização.

Além disso, uma comunicação interna deficiente, falta de cultura de inovação e maus gestores de pessoas são outras razões pelas quais os profissionais são limitados. Infelizmente, isso não começa no mercado de trabalho. Se olharmos um pouco mais para trás e analisarmos a nossa educação veremos que isso se inicia logo na escola, na formação de base desses profissionais.

Do ensino primário ao ensino médio, quando somos condicionados a fazer tanta cópia e ditado, treina-se pessoas para repetir padrões, serem uma reprodução daquilo que já foi estabelecido sabe-se lá por quem e há quantas décadas (ou séculos) atrás. É um sistema que remete aos jesuítas, à educação no Brasil colônia. Estamos longe de preparar pessoas para o conceito de economia criativa. Não é de se admirar que, ao chegarem ao ensino superior, esses alunos, que ainda possuem um raciocínio lógico atrasado e um conhecimento pífio da língua portuguesa, apresentem dificuldades quando ouvem do professor "não darei um roteiro para este trabalho. Criem sua própria estrutura". 

Ainda assim, há aqueles que persistem em criar. E os poucos preparados para inovar vão para o mercado de trabalho e, comumente, encontram uma nova limitação de coordenadores, gerentes e donos de empresas, os conhecidos "chefes" e "patrões". Uma pena. Uma sociedade que se apraz em formar seres limitados. Nem vou adentrar à realidade de como o poder público recebe as demandas de seus cidadãos, porque, daí, terminaria este texto exterminando qualquer esperança.

Pois, sim, há esperança. O boom de empreendedorismo que temos visto nos últimos anos é um exemplo disso, impulsionado pela convergência digital e pela mentalidade das novas gerações. São pessoas cansadas de serem limitadas, motivadas por fazer algo diferente, ainda que em seu próprio e pequeno espaço, serão donas de sua inovação. Grandes pessoas também foram assim e servem de inspiração. Steve Jobs, Yves Saint Laurent, Margaret Thatcher, Joaquim Barbosa. Todos eles não se deixaram limitar pelos padrões, sistemas, limitações e eventuais "patrões" ou "chefes".

E você, tem se deixado limitar? Qual foi sua última ideia de inovação que vingou? Talvez, seja hora de se mover.

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