12 de dezembro de 2015

A comunicação como desafio

"É uma dificuldade conversar com ele! Você precisa ficar tentando arrancar as coisas dele e só recebe respostas de má vontade. Parece que está falando com a mãe dele, sabe". Ouvi esta reclamação, certa vez, de um colega que acabara de tentar interagir com um subordinado acerca do trabalho que estava sendo feito.

Mais tarde, naquele mesmo dia indo para casa almoçar, estava estacionando o carro perto de uma escola e, enquanto manobrava, passou ao meu lado uma menina, que deveria ter uns 6 anos, acompanhada pela mãe. Tive tempo de ouvir o seguinte diálogo: "mas o que mais você quer saber? Já falei"; "quando eu pergunto como foi sua aula, quero saber o que você aprendeu, com quem conversou, o que fez de interessante... É isso".

Essas duas situações num mesmo dia me fizeram refletir de como se comunicar está cada vez mais difícil em nossos dias atuais. E quando me refiro a se comunicar, falo da comunicação em seu conceito genuíno. Afinal, pessoas esbravejando nas redes sociais, reclamando do trabalho pelos corredores da empresa ou simplesmente dividindo um relacionamento que não faz mais sentido não estão, de fato, se comunicando, por mais que estejam se expressando.

Neste sentido, vale recorrermos à teoria da comunicação para lembrar que "comunicar" parte do princípio de "tornar comum", ou seja, fazer uma ideia, pensamento ou conceito que esteja com um emissor se tornar conhecido e entendido por um receptor, usando os meios e canais mais adequados para isso. Assim, vale uma regra de que comunicação é aquilo que o outro entende e não aquilo que você fala. Sempre!




Difícil aceitar isso? Extremamente! Afinal, como é mais fácil se eximir de qualquer responsabilidade neste processo e se revestir da razão "eu disse, foi você que não entendeu". Pois, o ato de dizer está cada vez mais facilitado hoje em dia, sobretudo por conta da revolução tecnológica pela qual vimos passando nos últimos anos. A questão é, temos muitas pessoas querendo dizer, mas poucas preocupadas em se comunicar, de fato. 

Aí, entra um fenômeno curioso, porque nunca foi da essência da comunicação se tornar um desafio para os seus interlocutores. Pelo contrário, a comunicação deveria ser aplicada como meio para resolver os desafios em nosso entorno. Uma empresa que precisa manter um bom relacionamento com a comunidade ao seu redor. Os governantes que deveriam ouvir as pessoas que os colocaram onde estão. Um pedido de perdão ou um "eu te amo".




Tudo isso deveria ser facilitado pela comunicação, mas, então, surgem os problemas para fazer isso possível. A empresa simplesmente não se preocupa com a comunidade ao seu redor. Os governantes não querem ser transparentes. Nós temos dificuldade em lidar com o perdão e em declarar o amor. Dessa forma, a comunicação não acontece, nada se torna comum e continuamos cada um de nós isolados, em sua própria esfera.

Tais exemplos podem parecer mais formais quanto ao ato de se comunicar, porém todos nós vivenciamos isso em nosso cotidiano, o tempo todo. Como é raro, por exemplo, sustentar uma conversa por um longo tempo sem que os envolvidos não chequem seus celulares ao menos uma vez. E o que estas pessoas estão fazendo ao pegarem seus celulares? Provavelmente, falando com outras pessoas, talvez até combinando outros encontros, sem prestar muita atenção ao encontro que está acontecendo naquele momento. Por fim, nunca estamos por completo em lugar algum. 




O interessante desse novo comportamento tecnológico é que à medida que se aumentam os recursos para se comunicar, a disponibilidade de ferramentas e as possibilidades de interação, menos estamos preocupados em tornar comum, em se comunicar de forma genuína, e mais dificuldade (e menos interesse) temos nesse desafio que se tornou a comunicação; seja um profissional para interagir com seu líder, seja uma filha para contar à mãe como foi seu dia.

Por isso, é tão importante que recuperemos a essência do que é se comunicar, dando mais atenção ao que tornamos comum no outro e menos importância para as ferramentas em si. Não opte pelo caminho mais fácil (eu disse, minha parte já fiz), mas procure entender o que o seu receptor está compreendendo. Uma boa conversa, pedindo feedback de modo aberto e verdadeiro, sempre valerá muito mais do que qualquer mensagem enviada pelo smartphone. 

Que tal tentar? O resultado pode te surpreender. 



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